Caminhemos na Esperança! Com Cristo, missionários do Evangelho, em Igreja sinodal, somos peregrinos de esperança.

A Igreja vive de uma presença (cf. Mt 28, 20), uma presença que lhe dá vida, a anima, a inspira, a conduz, a move e mobiliza. É a presença de Cristo ressuscitado, vivo no meio de nós. Não é uma mera promessa, mas a Verdade, a Razão, a Vida da Igreja: do que é, de quanto faz, de quanto é chamada a fazer. Um programa pastoral não pode ser outra coisa, senão a permanente disposição para revelar ao mundo o que somos, o que pensamos, o que queremos e o como nos propomos caminhar, principalmente, acolhendo no hoje da vida do Povo de Deus, que se quer comunitária, esta presença transformadora (cf. Hb 3, 12-13). Desde a inauguração do novo tempo da salvação, o anúncio por excelência e o cerne da esperança é a certeza de que Cristo está connosco, caminha ao nosso lado, faz-se companheiro de jornada. 2. O âmago da Igreja sinodal é constituído pela urgência da conversão missionária. Sem missão, não há sinodalidade. Revisitando os tempos inaugurais, é belo descobrir como a pregação de Jesus estava ao serviço da salvação do género humano; Ele é a Palavra que anuncia a presença do Reino, interpela à conversão, anuncia novos tempos de esperança e luz. Por isso, possui um caráter universal e transversal, porque é para todos. Este estilo de Jesus foi adotado pela Igreja e torna-se uma cultura cada vez mais emergente no mundo, manifestando-se no modo de interpretar a vida, na forma de lidar com os desafios, no relevo dado à pessoa e à criação, na importância da ciência e da arte, na construção da comunidade e da fraternidade, no acolhimento respeitoso de todas as gerações e de todas as outras culturas, na busca da verdade e do bem fazer, na organização do tempo e na sua celebração, na valorização da vida e da alegria, nas causas humanistas e no pensamento, na hermenêutica da vida e da história. A cultura cristã torna-se uma dinâmica criativa em todos os âmbitos da vida e do mundo. 3. A Páscoa coroou o chamamento de todos à salvação, explicitando que ninguém pode ser excluído de aceder ao inovador anúncio. Assim, o nosso Programa Pastoral só poderia situar-se no contexto da universalidade (catolicidade), a qual se realiza preponderantemente na efetividade missionária. Sublinhamos três dimensões: a. Todos são chamados a escutar a Palavra da vida nova de Cristo ressuscitado. O primado da escuta da Palavra (cf. Rm 10, 17) surge quer no mistério da Encarnação, quer na Ressurreição. O Verbo de Deus encarna porque a Virgem Maria escuta a Palavra do enviado de Deus, por um lado, e, por outro lado, todas as testemunhas escutaram aquela palavra performativa: «Ressuscitou, não está aqui» (Mt 28, 6). Cristo é Palavra divina, é Palavra criadora, é Palavra eficaz e eficiente. Acolher a Palavra é permitir que Cristo nos cure, nos resgate, nos rasgue horizontes de futuro, nos lance ao largo (cf. Lc 5, 4) para tornar Deus presente no nosso tempo e nos nossos contextos. A ação missionária brota, pois, do encontro e da escuta da Palavra. Todos somos chamados a escutar a criatividade desta boa nova, que coloca todos e cada um em missão, em saída, para dar testemunho alegre do Deus vivo, feito homem em Jesus Cristo. b. Todos são chamados a participar, a protagonizar uma parábola de transformação, de mudança de vida. Neste incontornável desígnio, não só importa regressar a uma unidade entre vida e anúncio, de modo que a vida dos cristãos seja realização da palavra proclamada, mas, para nós, urge reencontrar o segredo da capacidade criadora do próprio anúncio cristão. Nem a erudição nem a ciência, por si só, farão com que a ação missionária da Igreja de Lisboa fecunde vidas novas, completamente cristoformes (cf 1Cor 1, 17). É imprescindível a proximidade, a envolvência, o testemunho, as causas, as iniciativas, os movimentos. A resposta aos problemas do mundo, a responsabilidade cristã passa pelo fogo do Espírito Santo. Esse sopro vivificador que nos faz relacionar como irmãos e cuidar da casa comum. Sem a capacidade de mover a uma transformação da vida, o Cristianismo poderá deixar de ser a identificação com Cristo, uma forma de pensar, uma cultura, uma hermenêutica da vida… e reduzir-se a uma mera utopia… c. Todos recebem o explícito envio missionário, para levar a boa nova a toda a terra. Na dimensão realmente abrangente da missão, funda-se a sinodalidade, na medida em que constitui um caminho conjunto do qual ninguém está excluído, mas todos estão envolvidos na transmissão do anúncio: a todas as geografias se deve levar a luz do Evangelho; a todos esta luz deve iluminar e fazer ver trilhos de esperança. Todos estamos em caminho, em comunhão com a Igreja universal, de braços abertos para receber os outros nossos irmãos. A conversão missionária gera e tem de gerar uma perspetiva antropológica, que se torna cultura e alimento social. O tesouro do Evangelho é capaz de fazer encontrar, reencontrar e reacender a vida nova de Deus, hoje. Por isso, quando Jesus encarnou, quando se fez próximo e prometeu estar connosco até ao fim dos tempos, estava a consagrar o nosso ser missionário, como princípio galvanizador orientado à totalidade da humanidade; todos partilhamos a comum vocação à transformação da vida pela força do anúncio e do testemunho da alegria do Evangelho. O que gera o vínculo de uma esperança sinodal é esse destino integral de plenitude, partilhado por todos e que a todos se aplica. 4. É assim que lançamos este Programa Pastoral, que se há de tornar meio e instrumento para realizar mais e melhor a presença de Jesus na comunidade dos cristãos do Patriarcado de Lisboa. Com Cristo, missionários do Evangelho, em Igreja sinodal, somos peregrinos de esperança. É também um convite para vivermos na alegria, na beleza, o grande Jubileu de 2025. Sintamo-nos capazes de nos envolvermos nesta pertença à Igreja de Cristo, que continuamente vem ao nosso encontro.

† RUI, Patriarca de Lisboa

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