A vida da paróquia não se mede apenas em calendários preenchidos ou em números que se alinham em relatórios. Mede-se, no silêncio sagrado onde Deus murmura, no pulsar da comunidade que ora, serve e caminha. E, quando chega o tempo de avaliar, não se trata de um simples balanço, mas de um exercício espiritual—um regresso ao essencial.
Em Liberdade, Como as Nuvens
Santo Inácio ensinou que o verdadeiro discernimento começa na indiferença santa—não no sentido de frieza, mas de leveza interior. Como as nuvens que se deixam levar pelo vento sem se agarrarem ao céu, também a paróquia deve avaliar o seu ano sem medo nem apegos. O que frutificou? O que secou? Perguntas que exigem um coração livre, capaz de dizer: “Não é meu, Senhor, mas Teu.”
A Linguagem da Alma: Consolação e Desolação
Há momentos que aquecem a alma como o sol da manhã—são as consolações: o grupo de catequese que se tornou família, as vigílias onde o Espírito soprou forte, a mão estendida aos mais frágeis. Mas há também sombras—desolações—que não devem ser temidas, mas escutadas. Talvez um projecto que esmoreceu, ou palavras duras que ficaram por sarar. Santo Inácio diria: “Atenta ao que te eleva e ao que te esvazia, pois até na aridez Deus fala.”
Pelos Frutos se Conhece a Árvore
Não são os aplausos, nem as aparências, que revelam a verdade de uma caminhada. São os frutos. Alguns doces, como o velho que voltou a confessar-se depois de anos, a mãe que encontrou na paróquia o abraço que lhe faltava. Outros, amargos, como as divisões que teimam em não cicatrizar ou a liturgia que se tornou rotina sem alma. Cristo disse: “Pelos frutos os conhecereis”—e uma avaliação pastoral deve ser, acima de tudo, uma colheita honesta.
Ouvir a Comunidade Como se Ouve o Vento
Deus não fala apenas no silêncio do coração. Fala também nas vozes da comunidade—nas dos que estão no centro e nas dos que se foram afastando, sem que alguém se tenha apercebido. Uma avaliação feita apenas entre os habituais é como um jardim regado a meias: florescerá só onde a água chegar. Santo Inácio lembrava que o Espírito sopra onde quer, e muitas vezes é no irmão inesperado que Ele deposita a palavra mais sábia.
5. O “Magis”: Sem Medo do Novo
No fim, o discernimento não é para ficarmos parados. É para avançar. O Magis inaciano—o “mais”, o “melhor”—chama-nos a não ter medo de refazer, de recomeçar, até de falhar outra vez, se for preciso. Porque o que importa não é o sucesso, mas a fidelidade. E uma paróquia que avalia o seu ano com esta ousadia humilde é como a vinha que, podada, volta a florir com mais força.
Para Que Serve Tudo Isto?
No final, resta uma pergunta simples, como as que Cristo fazia: “Isto aproxima-nos de Mim?” Se a avaliação for apenas contas e estratégias, terá sido em vão. Mas se for um acto de amor—um exame de consciência comunitário—, então a paróquia não estará apenas a fechar um ano. Estará a preparar-se para nascer de novo.
“Porque a vida não se pesa, mas semeia-se. E o que vale não é o que colhemos, mas o que, em nós, Deus ainda quer plantar.”

