Carta Pastoral “Dai razões da vossa esperança”

Esta carta pastoral do Patriarca de Lisboa, Rui, datada de 1 de dezembro de 2024, foca-se no tema da esperança cristã em preparação para o Ano Jubilar de 2025, que comemora 2025 anos desde a Encarnação da Palavra de Deus. A carta é dirigida à diocese de Lisboa, exortando a uma renovação do entendimento e da vivência da esperança cristã.

A carta desdobra-se através de vários argumentos-chave:

1. A Importância da Esperança Cristã: O Patriarca fundamenta a sua mensagem em 1 Pedro 3:15, instando os cristãos a serem testemunhas e missionários da esperança, enfatizando que a esperança é essencial para enfrentar os desafios da vida e é o cerne do processo de salvação (Romanos 8:24). Ele contrasta a esperança cristã com mero otimismo, argumentando que o otimismo é uma espera passiva, enquanto a esperança é uma confiança ativa em Deus. Assim, a esperança é uma virtude teológica, apenas compreendida e vivida através de uma relação íntima com Deus e com os outros.

2. O Contexto da Esperança: A carta reconhece os desafios do mundo moderno: guerras, pobreza, desigualdade e ansiedades existenciais. Estas dificuldades, argumenta o Patriarca, realçam a necessidade de aprofundar a esperança cristã. Ele referencia a escolha do Papa Francisco da esperança como tema para o Ano Jubilar e a encíclica de Bento XVI, Spe Salvi, sobre o mesmo tema. A carta nota a secularização da esperança, com o otimismo substituindo a profunda confiança em Deus característica da esperança cristã.

3. Esperança e Igreja Sinodal: O Patriarca conecta o Ano Jubilar com o processo sinodal em curso dentro da Igreja, enfatizando a necessidade de um entendimento renovado da missão da Igreja no mundo. O documento destaca o Sínodo de Lisboa (2016) e a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa (2023) como momentos significativos na jornada da Igreja. Ele enfatiza que a Igreja deve envolver-se com o mundo, não se retirar dele, e testemunhar o poder transformador de Cristo.

4. Superar Obstáculos à Esperança: A carta identifica a “imanentização do sobrenatural” – a redução do valor humano à produção material – como um obstáculo significativo à esperança. Isso leva a uma perda de conexão com o transcendente e a uma capacidade diminuída de experienciar o divino. O Patriarca advoga por um retorno às virtudes teológicas, especialmente a humildade, enfatizando que a esperança requer reconhecer a nossa dependência da graça de Deus.

5. Redescobrir as Virtudes Teológicas: A carta promove a redescoberta das virtudes teológicas através de vários caminhos: a razão, o estudo da revelação e a “via pulchritudinis” (o caminho da beleza), referindo a beleza da arte, da música sacra e da caridade cristã como vias para encontrar Deus. Desafia a sobrevalorização da conversão moral como único caminho para a fé, argumentando que o anúncio do Evangelho (o kerygma) deve ter prioridade.

6. Lugares de Esperança: A carta identifica lugares específicos onde a esperança pode ser vivida e aprofundada:

– A Família: A família é apresentada como a “escola da esperança”, uma unidade fundamental da sociedade onde a fé é transmitida e onde ocorrem encontros com Deus.

– Iniciação Cristã: A carta destaca a importância do kerygma e da experiência da intimidade de Deus como fundamento da verdadeira conversão, não apenas reforma moral.

– Comunidades Cristãs: As comunidades são apresentadas como refúgios de cura, renovação e força, encorajando o trabalho missionário e encontros com não-crentes. A carta enfatiza a Eucaristia, a Reconciliação e os ritos fúnebres como eventos litúrgicos particularmente importantes.

– Vida Diária: A esperança cristã deve ser vivida nas circunstâncias do dia a dia, fomentando a fé e a confiança na providência de Deus.

7. Maria como Modelo de Esperança: O Patriarca conclui invocando Maria, Mãe de Deus, como modelo de esperança, enfatizando o seu papel na Encarnação e a sua intercessão contínua pelos fiéis.

8. Um Chamado à Missão: A carta termina com um apelo para abraçar o Ano Jubilar como uma oportunidade para uma evangelização e missão renovadas, instando todos a partilhar os motivos da sua esperança com o mundo. O Patriarca enfatiza a necessidade de se envolver novamente com o mundo, testemunhando o amor de Cristo e oferecendo esperança num tempo de trevas.

Em essência, a carta pastoral é um poderoso apelo para renovar e aprofundar a experiência da esperança cristã face aos desafios contemporâneos, exortando a um retorno aos princípios fundamentais da fé, enfatizando a importância da comunidade e realçando o poder transformador da mensagem do Evangelho.

Partilhar notícia:

Outras Notícias