Salmo 83(84)
A caminho do Santuário
SENTIDO INICIAL
Este salmo é o canto simples e espontâneo de um peregrino a caminho do templo de Jerusalém, que deixa adivinhar toda a alegria que ele sente pela casa do Senhor.
Um fiel, em peregrinação para Jerusalém, exprime o seu desejo de visitar o templo: a minha alma suspira ansiosamente pelos átrios do Senhor, onde as próprias andorinhas gostam de fazer ninho (2-4), e chama felizes aos que ali podem morar sempre e aos que pensam fazer essa viagem, que Deus abençoa (5-8). Ele pede a Deus que o ajude a realizar o seu desejo (9-10), e fala da felicidade dos que moram nos átrios do Senhor e dos bens que Deus concede aos que procedem com rectidão (11-13).
SENTIDO ACTUAL
O salmo do peregrino que subia para se encontrar com Deus em Jerusalém, canta a nossa nostalgia não tanto pela casa onde Deus habita, mas pelo próprio Senhor da casa. Jesus é o novo e verdadeiro templo, porque n’Ele está presente e se manifesta Deus: «Quem Me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9). Mais ainda, Ele é a nossa morada e nós a morada d’Ele: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em Mim e Eu nele» (Jo 6, 56); «Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós» (Jo 15, 4). Como é agradável a vossa morada, Senhor dos Exércitos.
Por obra e vontade de Jesus, a sua morada, neste mundo, é a Igreja: «N’Ele toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. É n’Ele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito» (Ef 2, 21-22). Por isso, são felizes os que moram na vossa casa, que é a Igreja. Os que nela moram e os que para ela vão caminhando, porque aí podem louvar-Vos continuamente.
A Igreja é a casa onde podemos encontrar Jesus e falar com o Pai, mas não ainda face a face. Ela não é a morada definitiva. Essa, pela qual suspiramos, está no céu: «não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura» (Hebr 13, 14). Habitar agora na Igreja da terra é peregrinar: «Sabemos, com efeito, que, quando a nossa morada terrestre, a nossa tenda, for destruída, temos uma habitação no Céu, obra de Deus, uma casa eterna, não construída por mãos humanas… Portanto, estamos sempre confiantes e conscientes de que, permanecendo neste corpo, vivemos exilados, longe do Senhor» (2 Cor 5, 1. 6).
O vale seco que atravessamos vai-se transformando em oásis, graças à nascente de água que brota do lado de Cristo e o cobre de bênçãos. A nossa força para caminhar com entusiasmo crescente vem dessa fonte, do rosto do ungido do Senhor.
Feliz o homem que n’Ele confia.
Salmo 83 (84) A caminho do templo do Senhor
Não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura
(Hebr 13, 14).
2 Como é agradável a vossa morada, * Senhor dos Exércitos!
3 A minha alma suspira ansiosamente * pelos átrios do Senhor.
O meu coração e a minha carne * exultam no Deus vivo.
4 Até as aves do céu encontram abrigo *
e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, *
meu Rei e meu Deus.
5 Felizes os que moram em vossa casa: * podem louvar-Vos continuamente.
6 Felizes os que em Vós encontram a sua força, *
os que trazem no coração os caminhos do santuário.
7 Ao atravessar o vale seco, transformam-no em oásis, * que logo as primeiras chuvas cobrirão de bênçãos.
8 Vão caminhando com entusiasmo crescente, * até verem Deus em Sião.
9 Senhor Deus dos Exércitos, ouvi a minha prece, * prestai-me ouvidos, ó Deus de Jacob.
10 Contemplai, ó Deus, nosso protector, * ponde os olhos no rosto do vosso Ungido.
11 Um dia em vossos átrios * vale por mais de mil.
Antes quero ficar no vestíbulo da casa do meu Deus * do que habitar nas tendas dos pecadores.
12 Porque o Senhor Deus é sol e escudo, * Ele dá a graça e a glória.
O Senhor não recusa os seus bens * aos que procedem com rectidão.
13 Senhor dos Exércitos, *
feliz o homem que em Vós confia!
Glória ao Pai…
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«A minha alma suspira ansiosamente pelos átrios do Senhor. Não basta suspirar nem desfalecer. Para onde voa o desejo? Para os átrios do Senhor. A uva espremida também desfalece; mas para quê? Para se tornar vinho na cuba, para ficar em repouso no depósito, onde estará na maior tranquilidade.
Aqui o desejo, ali a posse; aqui os suspiros, ali a feli- cidade; aqui as súplicas, ali o louvor; aqui os gemidos, ali a alegria.
Ninguém diga que as minhas palavras são muito duras, ninguém recuse sofrer. A uva que teme o lagar corre o risco de ser devorada pelas aves e pelas feras. Alguém parece mergulhado em grande tristeza ao dizer: A minha alma suspira ansiosamente pelos átrios do Senhor.
A nossa alma não possui aquilo que deseja. Mas será que não tem alegria nenhuma? Que alegria? Ela possui a alegria de que fala o Apóstolo: alegres na esperança. Aqui a esperança, ali a realidade. Entretanto, os que se ale- gram na esperança, uma vez que estão certos de alcançar a realidade aceitam as provações do lagar.
É por este motivo que o Apóstolo, ao falar da alegria da nossa esperança, recomenda àqueles que suportam os sofrimentos no lagar: Sede pacientes na tribulação; e acrescenta de imediato: Perseverai na oração. Porquê perseverar? Porque o cumprimento demora. Orais, mas Deus tarda em escutar-vos. Suportai essa demora. Quanto Ele vier não vos será tirado.
Não tenhais medo, irmãos. O louvor de Deus nunca nos cansará, e nós nunca nos cansaremos do amor de Deus. Deixarias de O louvar se deixasses de O amar. O amor em nós será eterno, porque a sua beleza não acabará de nos saciar. Não tenhas medo de não poderes bendizer Aquele que poderás amar eternamente: Felizes os que moram na vossa casa: podem louvar-Vos continuamente. Suspiremos por essa vida».
ORAÇÃO SÁLMICA
Senhor dos céus e da terra, que Vos dignais habitar entre os homens e estabelecestes a vossa morada no templo do vosso ungido, gravai no nosso coração os caminhos do santuário celeste, para que, caminhando com entusiasmo sempre crescente, alcancemos a felicidade da vossa morada permanente. Por Nosso Senhor.