Resposta a carta “simpática”!

Uma carta “simpática” foi deixada na caixa de correio de vários paroquianos, em Paço de Arcos, por um cavalheiro, de nome Mário Gil, com uma série de afirmações e crenças que refletem a interpretação de uma determinada vertente religiosa, neste caso as Testemunhas de Jeová. À  luz da teologia da Igreja Católica, vou fazer a crítica das diferenças sobre as questões da escatologia, da providência divina e a relação entre natureza e os seres humanos.

O texto começa mencionando os fenómenos climáticos extremos como sinais que precedem a vinda do Reino de Deus. Embora a Igreja Católica reconheça que a criação está sujeita ao sofrimento devido ao pecado original (Gn 3, 17-19), ela não determina catástrofes naturais como sinais claros do fim dos tempos. No Catecismo da Igreja Católica é-nos ensinado que “a criação, à qual se refere a Revelação, é respeitada e deve ser respeitada, e isso implica uma responsabilidade ética da humanidade para com a criação” (nº2415). O ensinamento da Igreja está na necessidade de cuidar da criação, ao invés de ver desastres naturais exclusivamente como intervenções divinas.

O texto menciona também que a Bíblia revela a promessa de Jeová sobre um futuro esperançoso e uma terra paradisíaca. Na doutrina católica, a esperança é central, mas  baseia-se na confiança da salvação oferecida por meio de Jesus Cristo e na promessa da vida eterna, e não na expectativa de um reino milenar neste mundo. Para a Igreja Católica, o Reino de Deus já está presente na Igreja e será plenamente realizado no fim dos tempos, durante a Segunda Advento de Cristo,  (Mateus 25, 31-46). A Igreja não ensina que o Reino será estabelecido por uma liderança terrestre ou temporária liderada por Cristo após um governo milenar.

O texto continua afirmando que Jesus demonstrou o seu poder sobre as condições meteorológicas durante sua vida na Terra. A Igreja Católica reconhece também a natureza divina de Cristo e seu poder sobre a criação, (Mc 4, 37-41). Contudo, ao contrário do que sugere o texto, a Igreja considera que os milagres de Jesus são um sinal de sua divindade e um convite à fé, nas suas dimensões espirituais e metafísicas, e não uma garantia da eliminação total de catástrofes naturais na vida terrestre.

A carta conclui convidando o leitor a visitar um site para saber mais sobre quando Jesus irá controlar o clima. Ora, na doutrina católica, há um chamamento contínuo à conversão, que vai além de uma intervenção divina para mitigar as tempestades. A doutrina da Igreja sublinha a colaboração com Deus através de boas obras, ações em favor da justiça e da paz, e o cuidado pelo planeta. O Catecismo diz que “a luta contra a pobreza e a injustiça é uma exigência da caridade, da justiça e da paz”. (nº 2444). A declaração de que “sob a liderança de Jesus, as pessoas nunca mais serão prejudicadas por um clima extremo” apresenta uma visão alinhada com a interpretação de um reino milenar e físico. Para a teologia católica, o Reino de Deus é um mistério que se realiza na história através da Igreja e culminará em um destino eterno na presença de Deus. A doutrina católica na providência divina ensina que Deus está sempre presente, mesmo nas adversidades da vida, e que mesmo nos desastres naturais, a humanidade pode responder com compaixão, solidariedade e esperança.

Em síntese, o texto apresenta uma visão pobre e milenarista que difere muito da compreensão católica. Esta propõe uma abordagem mais integrada e global ao cuidar da criação, promovendo a esperança no contexto da salvação, não apenas como um futuro idealizado, mas na vida eterna com Deus.

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